Os anos se passaram. Enfim o ensejado século XXI aportou em nossas casas. Agora nos resta ultrapassar a fase de transição. Da luta entre o velho e o novo, aniquilar a antiga forma de pensar e manter o conservadorismo sob camisa-de-força. Nossa liberdade está em nossas mentes. A discussão começa agora. Bem vindo à Comunidade Chao. e-mail: juniorchao@hotmail.com

sexta-feira, setembro 24, 2004

OCASIÕES, DELÍRIOS OU O DESERTO INTERIOR

Foi calmo o perecer do vento...

Pois bem: não foi tão plácido. Noutro dia desses, fez-se o verão repousar ewntitulando-se TEMPESTADE e suposta poeira lhe cobriu a face. Foi duro! Duro! Agarganta se fez seca feito fazia-lhe a couraça do pé.

O que se chamavam cordas vocais, rachadas se tornaram, então, por consequência. De areia se molharam as vistas que, com lágrimas se hidrataram e, pela segunda vez, lhe impediram de enxergar... Já cansou. CANSOU!

O sucesso daquela jornada se entranhava já em suas veias, através das quais percorriam os ecos que alicerçavam a sua vontade plena. Sucumbia à tragetória a cada passo perdido ao pôr-do-sol. Um ser simples, singelo e simpático que percorria o deserto criado pela própria aridez emanada de sua alma, própria alma... O carisma até então empregado desmembrou várias OCASIÕES pseudo-esquizofrênicas evidenciadas por bastante naquela direção.

A partida ficara para trás. Junto a esta, a inconformidade de nunca se conformar com nada (ou
coisa alguma). Uma aliteração paisagística: vento, voa, vago...

Só se ausentava da voz por não ter com quem falar; foi criando em seu templo um sulco que lhe consumia de cima para baixo, alcançando, ainda, o temor ali alojado. Tomou, enfim, posse dum cajado abandonado e lhe usou como carona. Há muito o velho cajado esperava por um traseunte. Houve um certo tempo denominado TRÉGUA.

Trégua (...)

O vento já não gritava tanto neste instante. Parece ter sorrido até com a agonia alheia. A vítima agora se encontra defrontada a uma formação rochosa onde resolve permanecer até o fim do assalto. Não hesitou em cerrar os olhos ardidos e orar, por ora, por orar...até o anoitecer total que viria.

Foram várias as milhas descontadas por esperar tanto na última cidade em que aportou o corpo. Eis o seu navio: o corpo, tendo a velha camisa ocre como velas dançantes. Seus pés se tornaram âncoras diante do cansaço. A respiração fraca, já aniversariante de dias, impedia-lhe de continuar por enquanto.

A noite caiu feito pedra: PAH! Assassinou toda luz ali contida na imensidão dos uivos anemoníacos.

" Os pesadelos são intrusos que invadem a mente" - lembrava a cultura indígena dos seus.
De repente se viu afogado à beira de um rio. Longo, largo, rico rio. Acordou. Puxava pelo ar. O corpo sedento já não mais suportava a solidão de parecer inanimado, alternando delírio e a desgraça existentes. Logo emergem duas duas mãos em sua frente, como planta que se espalhava incontinente, germiram da areia do deserto. Aos poucos surgiu um corpo; as mãos lhe deram água. Também lhe deram força. Porém a visão foi-lhe extraviada. O sol forte e a surra de areia lhe danificaram o olhar castanho-claro.

"Quem é você?" - indaga ainda rouco.

O silêncio predomina. Não houve resposta a curto prazo pelo menos. Uma voz tenra agora se pronunciava como um afago:

"Como me descreves? Não notas tu ser eu tua própria projeção? Sou tudo o que você abandonou por amor, por amar. Não te lembras da última vez que pensou em si mesmo? Falo aqui de Amor Próprio, não de narcisismo. Quantas horas abandonaste para desejar o que não lutaste para conseguir? Por que, então, foges pelo deserto de tua própria consciência, onde sabes, não encontrarás coisa alguma para refletir? Continuou ponderando:

"Tua teimosia o trouxe para o lado mais quente da sua fuga: encontraste infertilidade, sêca, solidão: FALTA GENERALIZADA. Deixaste ser dominado em troca de força alheia quando a força residia em ti! POr isto te tornaste cego. Só via o que queria e, por isto, fechas os olhos para evitar o indesejável. Tudo se tornou rotina em tua própria busca. Quando procurava se encontrar, se perdu por entre as próprias mãos. Temo que venhas a rescindir. Tua bondade e esperança o tirarão desta desventura. Enfrenta, pois, a tempestade que tu mesmo provocaste. Erga-te!"

Uma confusão se fez em seu coração quendo, logo, uma chama bem diferente de tudo que já havia visto , de tonalidade azul-anil, se acendeu oriunda do céu. Vai-lhe tomando a atenção. Uma sensação incômoda surpreende o seu sofrimento ainda mais. Uma voz, outra, então:

"Às vezes oplano antes aguardado se resguarda de ser aplicado por causa da inverdadeira vontade de o fazer funcionar. Muitas pessoas entram e saem de nossas vidas e algumas delas está apta a convergir conosco. As palavras nem sempre como queremos fluem. Necessário haver uma certa dose de ignorância destes obstáculos. Deve-se atravessá-los sem qualquer tentativa de se pensar duas vezes. Se não atravessamos, outro atravessará em nosso lugar. Prudência e cautela exagerdas não constituem uma boa idéia. As regras castram a vontade reprimindo ainda mais a evolução do ser. É o que chamo de RISCO CALCULADO."

O Suor lhe tomava o rosto, tendo os pés gelados e o cajado na mão. Seus pensamentos, em dúvida, se confrontavam com o que seria a verdade e o que pareceria verdade. Durante toda a sua vida dedicou-se aos princípios que lhe foram arguidos. A exigência e a virtude sempre estiveram ao seu lado. Entretanto vivera intensamente pelos outros, enquanto estes o carregavam nas costas até onde suportassem. A primeira voz volta a lhe alertar:

"Lembra-te de quando abandonaste a ti mesmo naquele vasto horizonte, onde nevoeiro e nuvens se confundiam por o horizonte ser muito próximo do que se chamava céu... Estavas em dúvida quanto aos valores sentimentais e a ocasião ali inflamada por tua grande culpa! Não olhavas para si, a não ser se espelhar. O sono era motivo de pesadelos pelo ar. Retorna à consciência!!!"

A segunda voz, indignada, contesta:

"Hoje estás aqui pela tua prisão interior. Os elementos bastantes hão de turvar-lhe as vistas a cada vez que ouvir as promessas de voltar, voltar, VOLTAR. Quantas vezes não lhe reconhecem pelos degraus que superas? Quantos já a ti vieram dar as mãos para prosseguir e dizer "Vai, você pode"? Esconda-se e ignora estes que lhe acompanhm por apenas estar contigo, vistos os dons virtuosos ou viciosos que lhe pertencem. Desiste de amar a si mesmo e vai em busca do que você quer. Viva de momentos. É assim que tem que ser."

As vozes discutiram entre a impaciência do ser ali desprendido. Chorava feito criança. Com as mãos estiradas pelo chão, assim como o resto do corpo, contorcia-se de agonia. Pensava:

"Que miséria tomou minh'alma feito chaga incurável?" Agora escuto vozes que me ordenam e desnorteiam" - concluiu em delírio.

Não era capaz de exprimir vontade alguma. Sua feição tristonha lhe impediu de tomar uma posição, que fosse, imediata. Por cinco segundos a visão lhe foi recuperada e, enfim, pôde enxergar as duas vozes. Foi quando sentiu-se esfaqueado por si mesmo quando resolveu se aniquilar por não decidir quem acompanhar...

Sabe-se, hoje, que a primeira voz era de quem tanto o amou e a segunda, de quem já amou a primeira e não pôde regressar. Não se sabe do fim, apenas que sobre si convergiam as setas e, para elas, deixou-se o seu temor: o DESERTO INTERIOR.

Junior Chao