ENSAIO - CAPÍTULO I - PARTE I
Se assustou com a própria imagem. Um movimento incessante. A textura da parede lhe lembrava o lugar antes abandonado. Foi tamanha a velocidade com que tomou rumo, tomou prumo. Tocou meu pulso com desconfiança e alisou a minha testa. O que faria se isto piorasse? A sensação de se perder e saber onde se está era predominante. O ócio do coração, de tanto tempo, fez-se em cadaços para as minhas mãos. O corpo insão, insano, saneado...
A porta promete permanecer trancada até o fim da noite. Uma opinião maldosa foi pulverisada. Um jamais realizado; um nunca improvizado. Voltou o caminho: não hesitou em se perder. Colocou minha alma envolta por seus braços e não precisou acolher com tanta força. Um colóquio ilógico, rasgante, rasante...
A nuvem escura deu lugar a um eclipse de mãos e bocas.
__ Qual é a sua constelação? - questionou quase que subitamente.
O cume foi chegando ao último andar. Um momento psicodélico e apático. Bateu com o peito do rosto sobre um sino ali perdido. A vista permaneceu intacta e in signis. O ar era asséptico. O ar continuou asséptico. Se aqueceu o corpo sobre mim: um espaldar humano glorificado por ceder. A pressa não era presente. Escreveu, pois, missivas enigmáticas. De repente, um barulho adentrou-nos novaente a mente. Estilhaçado o silêncio, os espinhos se confundiam.
Recebeu-me findando a loquacidade insurgida, ressurgida, sobressurgida do desdém. Impôs-me a consequência, extinguindo a imprudência que me colocara ali então. Uma mentira acreditada; e nem sempre o bom lagarto restitui o trabalho do jardineiro.
Pensou: "Minha carência não se choca com a coincidência de você estar aqui". Foi um insight. O sol se dirigia à noite. O que não era aproveitável foi logo ressuscitado. Passou o rosto suado no meu pescoço e a apnéia pensou em me visitar.
--Então era isso!
--Sim. Entendeu tudo, não? - preocupei-me.
-- ???
-- O que foi?
-- (...)
-- Não fala nada agora então.
Devassa total. O mastro caiu afobado sobre toda a tripulação; o maestro fez todos desafinarem. O derradeiro estrondo não foi ouvido (o zunido). Citou a próxima fase: a exumação. Trancou-me em seu cárdio sem, antes, respirar-me uma solitária palavra. A bebida suntuosa deixou o estigma necessário. Recapeou os mesu pensamentos e fugiu...
Fugiu!
-- Com o que me encobres agora?
A voz não respostou. Ausentou-se do aposento afora. Permaneci pela minha conformidade. O teto ficou sem nexo e começou a sorrir. Apertou os meus olhos com os polegares e, com os indicadores, massageou-me as têmporas. A dor que consumia dissipou-se.
--Melhorou?
--Eu te amo.
106 era o número da casa. Paredes ainda comppostas e piso formado por tacos de madeira.
--Eu lhe perguntei se a dor passou.
--Eu-te-amo - repetiu paulatinamente.
Os dois, parados, procuravam explicação repentina para aquele minuto fático, fatal. Os olhos, talvez, não disputariam lugar jamais. Doravante, o grito interrompido proporcionaria odrama. O fogo iluminava borrado pela fumaça. A crença mal formulada: pensávamos nos pertencer...
A absolvição sumária pois.
(continua na parte II do Cap I - Ensaio)
Junior Chao
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terça-feira, agosto 09, 2005 3:11:00 PM
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